Esta semana é uma semana atípica. Minha vida de sempre foi atropelada por vários acontecimentos importantes: visita da mãe em Paris, última semana de trabalho, decisão definitiva sobre quando voltar para o Brasil baseada em uma resposta que teremos na sexta, organização das primeiras férias de verdade depois de 4 anos e calor, muito calor.
Os parisienses compartilham pelo menos dois desses eventos: o calor e o planejamento das férias (em julho/agosto todos eles migram para o sul). Então pude perceber nitidamente nas ruas uma felicidade geral - os parisienses estão ainda mais eufóricos do que na primavera! Como passei o fim de semana inteiro turistando com minha mãe, aproveitei bem todo esse momento de bom-humor coletivo, coisa rara em Paris. Nas lojas os vendedores vinham sorridentes e prestativos, nem faziam cara feia quando eu experimentava metade da loja e saia sem levar nada. Um deles, inclusive, me pediu em casamento ajoelhado e tudo. Na rua não precisávamos sequer pedir informações, era só abrir um mapa que automaticamente chegava alguém perguntando se precisavámos de ajuda, às vezes até arranhando um português simpático. Para pedir que tirassem uma foto era a mesma coisa: bastava tirar a câmera de dentro da bolsa que alguém se materializava do nosso lado oferecendo pra bater. Nunca vi isso, juro pra vocês.
O mais engraçado é que em todos esses contatos o calor entrava na conversa. O grande acontecimento era a previsão da temperatura de segunda-feira, incríveis 37°, então a expectativa era enorme. Parecia até que todo mundo estava só procurando uma desculpa pra falar "Ei, viu só? Amanhã teremos 37°! High five!" Inevitavelmente, todos os diálogos chegavam aqui. Parecia até copa do mundo, sabe? Como se todos nós estivéssemos nessa juntos, para o melhor e para o pior. Só faltava um tapinha nas costas - vamulá, vamulá, rumo aos 37! Daí tinha gente que descrevia os preparativos para o dia seguinte: "sempre deixo a janela da sala fechada, mas amanhã vou ter que abrir tudo!", outros me davam conselhos: "não esquece de beber muito líquido, vai fazer 37°".
Pois os 37º chegaram ontem e olha, quase morri. Tô muito parisiense? Minha mãe disse que não sobrevivo mais ao calor do Rio, acho que ela está certa. As crianças que tomei conta botaram o pé pra fora de casa e pediram pra voltar. Eu não tava a fim de perder a oportunidade de curtir o calor, então as obriguei a ir no parquinho, coitadas. Elas não aguentaram brincar nem na sombra e ficaram resmungando sentadas no banco. Minha mãe viu uma ambulância tirar um velhinho de casa. Pegar ônibus nesse calor não foi brincadeira, os ônibus daqui não têm janelas nem ar-condicionado! Porque como o Brasil não está preparado para o frio, a França definitivamente não está preparada para o calor.
Vou tratar de aproveitar bem da simpatia e do calor em Paris, porque certamente ambos duram muito pouco!