quinta-feira, 29 de julho de 2010

Arrasando na tradução

Eu sou uma pessoa boba. Alerto caso vocês ainda não tenham percebido. Sabe como é, nesse negocio de blog às vezes a gente acha que a pessoa é uma coisa e ela outra, então agora vocês ja sabem. De primeira ninguém nota, aquela coisa de "hum, ela fez mestrado de geopolitica", e tudo isso, mas é so me dar um pouquinho de intimidade que eu fico logo boba. Uma das provas da minha bobice é passar o tempo traduzindo funks cariocas para o francês e morrer de rir. E nem vou contar quem é meu parceiro nessa porque ele não gosta de aparecer :)

Então se você não fala francês ou não conhece funks cariocas antigos, corre o risco de não achar graça neste post. E se você fala francês, conhece funks cariocas antigos e tiver um minimo de bom senso, com certeza não vai achar a menor graça nesse post.

Algumas das nossas obras:

- Danse de la petite moto, danse de la petite moto, danse de la petite moto les filles au gros derrière devienent folles!
- Allez mille-pattes, allez mille-pattes!
- C'est son de noir, de gens de la cité, mais quand ça sonne personne ne reste sans bouger!
- Je veut juste être hereux, marcher tranquilement dans la cité où je suis né. Et pouvoir être fier et avoir la conscience que le pauvre a sa place.

Tudo pontuado por varias girias tipo "ça a pris du temps!" ou "es-tu allumé?".

Aiaiai.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Gentileza gera gentileza

O jornal Le Monde publicou ha duas semanas uma reportagem sobre um novo tipo de joguinho que anda rodando pela internet: "je perds donc je pense" (perco, logo penso). O objetivo desses jogos não é a vitoria, mas a compreensão do funcionamento de certos mecanismos da sociedade. O Food Import Follies simula a importação anual de alimentos nos Estados Unidos. O jogador tem que fiscalizar os alimentos que entram e se tiver uma falha, a população é contaminada. A dificuldade vai aumentando com os anos, ja que em 1997 a carga de importação era de 2 milhões de carregamentos e em 2006, esse numero mais que quadriplicou.

Tem também o Oiligarchy, esse mais demoradinho, que simula a industria do petroleo. O jogador é o gerente de uma companhia petrolifica e tem que se expandir o maximo possivel, sem se preocupar com o meio ambiente, a população dos paises pobres onde a companhia pretende se instalar e outras coisinhas inconvenientes como estas. O problema é que no fim as reservas de petroleo acaba de qualquer jeito, então por mais inescrupuloso e bom jogador que você seja, o final é sempre previsivel.

Mas o meu preferido, de longe, é o September 12th. Não vou comentar pra não estragar a graça do jogo, mas achei genial! Tão simples, como tem gente que ainda não consegue entender essa logica?

sábado, 24 de julho de 2010

Defesa da dissertação - ano II

Passei dois anos pensando que quando terminasse o mestrado sobraria tempo livre pra fazer todas as coisas que gostaria de fazer e não dava. Minha motivação pra terminar as dissertações foi pensar em tudo o que eu faria depois do trabalho acabado: nos passeios desapressados, nos longos banhos de banheira, nas visitas aos amigos, nos varios posts que escreveria tranquilamente para o blog. Mas cadê o tempo? Quanta propaganda enganosa contei para mim mesma! Meu dia não tem 30h, como achei que teria depois do mestrado! Ainda mais com minha mãe em Paris.

Então vou começar contando como foi a defesa da dissertação, antes que passe tempo demais. Não posso dizer que havia me preparado bastante, escrevi apenas um texto de uma pagina pra ir me guiando, enquanto fazia observações espontâneas (trabalhar na radio realmente esta me ajudando a perder o medo de falar em publico e improvisar). Ano passado fiz power point, decorei cada linha do que ia dizer, fiquei nervosa à toa e no fim não adiantou nada, então esse ano fui bem relax. Quer dizer, quase, porque minha mãe estava pra chegar na minha casa e eu estava preocupada se o esquema da chave tinha dado certo, mas nada dela ligar pra me tranquilizar.

Esse ano não tinha ninguém na faculdade, ja que a maior parte da turma vai defender so a partir de setembro, então não pude bater-papo e trocar dicas pra passar o tempo. Ao invés disso fiquei 40 minutos (20 de atraso e 20 de antecedência) olhando para meu telefone esperando minha mãe ligar e xingando mentalmente os professores que não me chamavam pra acabar com aquilo de uma vez.

Confesso que não estava esperando uma nota excelente, ja que eu achei meu trabalho do ano passado melhor (e feito com mais vontade, diga-se de passagem) do que o desse ano. Estava consciente que não haveria grandes elogios, mas eu nunca tive intenção de fazer um doutorado ou seguir carreira acadêmica, eu so queria mesmo aprender e essa parte da dissertação era so um detalhe chato e sem importância pessoal. A nota minima para passar é 10, ja que na França a nota maxima é 20 e uma nota excelente é 17. Ninguém nunca tira a nota maxima. Ano passado eu tinha que tirar no minimo 14 pra poder passar pro segundo ano do mestrado, mas esse ano não tinha essa preocupação.

As professoras chamaram e eu comecei minha apresentação. Fui interrompida no meio e uma delas delas disse "Isso tudo a gente ja sabe, conte alguma coisa nova. O que você mudaria no seu trabalho?". Acho que se eu tivesse uma terceira dissertação pra defender na França (bate na madeira) não prepararia nada, porque é perda de tempo. Pô, a gente perde o maior tempão preparando a apresentação e acaba sempre improvisando tudo. Mas até que foi legal desse jeito, pois a coisa descambou mais pra uma conversa informal e não teve aquele climão. Mas isso é na minha faculdade, viu gente? Não sei se nas outras universidades os professores também fazem isso. La eles não gostam muito de formalidades não, para minha sorte.

A primeira coisa que falaram, era que tinha um erro de francês (na verdade de digitação) no titulo. De novo. Duas dissetações, dois erros no titulo. Que coisa! Olha que otima primeira impressão que me esforço em passar para os professores! Pensei que minha média ja tinha caido pra uns 7.

Criticas, muitas criticas. Alguns elogios. A critica que me tocou mais foi uma parte em que eu escrevi algo como "esse trabalho vai tentar analisar se as razões do conflito são de origem historica, cultural, economica ou simplesmente ideologica" e ela rebateu: "Como você estudou aqui dois anos e ainda fala em 'simplesmente ideologica'? As maiores guerras do mundo foram feitas por ideologia!". Ops. Eu não quis dizer que era simples, foi so um vicio de linguagem, sabe? Mas fiquei super sem jeito.

Alias, elas analisaram mais o meu francês esse ano do que no ano passado. Pegavam cada palavra, cada frase pra discutir como se eu tivesse deliberadamente escolhido cada uma delas, mas que na verdade, em muitos casos era apenas fruto da correção. Isso rendeu o climax da minha defesa, ja que uma das professoras disse em determinado momento:

          - Achei muito interessante a escolha dessa palavra aqui. Eh verdade que ela cabe nessa situação, mas pode ser extremamente controversa. Foi uma decisão bem particular de ter falado em 'tal palavra' nessa situação. Quais razões que te levaram a escolhe-la?

A essa altura eu achei que ja estava tarde demais pra dizer que eu não sabia sequer o significado da tal palavra, que provavelmente ela foi trocada na correção e me passou completamente despercebida. Eu que não ia admitir isso e então comecei, confiante por fora, gelatina por dentro:

          - Bom, eu acho que essa palavra traduz exatamente o contexto desse caso particular. Eu hesitei um pouco, mas acabei tendo certeza de que ela cabia bem nesse caso especifico, apesar de extrema. Você não acha? Ela fez um "hum-hum" e continuou. Ufa!

No final das contas, tive uma nota bem maior do que a esperada: 14, a mesma do ano passado. Ueba! Com um porém: tenho que corrigir umas coisinhas até setembro, mas é coisa basica que não vai dar muito trabalho. Na verdade posso escolher entre ficar com 13 com o trabalho atual, ou passar pra 14 com as correções. Mas como são mudanças simples, vou fazer. Resultado final: feliz, uma tonelada a menos das costas, com menção bien, livre e pronta para a proxima etapa!

domingo, 18 de julho de 2010

Guten tag!

Tenho tanta coisa pra contar que nem sei por onde começar! Tudo isso porque estou sem internet desde segunda-feira, há uma semana, quando defendi minha dissertação (voltarei a esse assunto mais tarde), minha mãe chegou do Brasil e nós duas fomos viajar pra Alemanha, tudo no mesmo dia.


Primeira declaração: estou perdidamente apaixonada pela Alemanha. Nunca imaginei que fosse gostar tanto desse país que não fazia muita questão de conhecer. Até a língua me deu vontade de aprender, e eu que sempre achei que alemão fosse inútil, já que só é falada na Alemanha e quase todos os alemães falam inglês. Mas aí aprendi que os jovens alemães falam inglês, a galera de mais de 40 anos não. Mas isso não impede os altos papos que batemos com os coroas daqui. Impressionante como a gente consegue se comunicar, quando se tem um pouquinho de paciência, sem entender uma palavra do que o outro diz. O dono da pensão que estamos não fala inglês e conseguiu nos dar todas as indicações sobre as regras de hospedagem. Na rua, conversamos com duas senhoras em dois diálogos paralelos português/alemão e conseguimos nos entender muito bem.


Tá certo que estou visitando o país na época mais quente do ano e que não estou imaginando como deve ser torturantemente frio 9 meses por ano, mas eu me sinto muito bem aqui, parece que estou em casa, apesar de não entender uma palavra do que falam na rua. Gosto do ambiente, do clima descontraído, da organização.


Uma das coisas que eu gostei mais foi o modo como os alemães levam a vida. Eles parecem irreverentes, livres e sem preconceitos. Falam alto, riem alto, festejam alto. E tomam litros e litros de cerveja. Eles parecem não se preocupar com o que os outros estão pensando deles. Posso estar errada, mas acho que é um bom lugar para crianças crescerem sem complexos. Eu vi uma mulher na rua com um vestido branco transparente, com uma calcinha fio-dental e sem sutiã. O detalhe era que ela estava com a filhinha de um ano, o que causaria uma confusão tremenda na cabeça dos machões brasileiros de plantão: mas ela é mãe (sinônimo de santa) ou é puta? Pois lá ninguém nem olhava pra ela, como se fosse uma cena bem comum.


Os alemães (mulheres e homens) são grandes, altos e naturalmente fortes, dá a impressão que eles são mais sólidos que o resto de nós mortais e que numa briga, sempre ganham. Os aliados tiveram muita coragem pra enfrentar esses gigantes, porque se eu desse de cara com um exército de alemães numa guerra, sairia de fininho.


Agora estamos em Berlim e também estou amando a cidade. Estivemos em Praga, mas achei que não chegou aos pés da Alemanha. Tô falando que apaixonei. Ficamos por aqui até terça à noite e chegamos quarta de manhã. Selecionei umas fotos entre as 475.758 que minha mãe já tirou. Tschüss!

domingo, 11 de julho de 2010

Brasileira + francês = desconfiança

Os brasileiros que decidem morar na França vêm pelas razões mais diversas, mas acho que podemos reduzir grosseiramente a três principais. A primeira é para estudar, geralmente jovens solteiras e solteiros que ficam um periodo determinado de tempo. A segunda é pelo trabalho, geralmente adultos com familia que se instalam a longo prazo. E a terceira é pelos relacionamentos amorosos franco-brasileiros.

Detesto admitir que me encaixo na terceira categoria, porque a primeira impressão que as pessoas têm é que eu larguei toda a minha vida pra tras em nome do sonho de um grande amor, o que não é nem um pouco verdade. Se eu não estivesse com o cheri, eu teria ido para um pais estrangeiro de qualquer forma. Pode até ser que não estivesse na França, mas provavelmente também não estaria no Brasil. Eu so uni o util ao agradavel.

Mas as pessoas desconfiam de casais franco-estrangeiros. Não so os franceses, mas todo mundo, até outros casais franco-estrangeiros. Parece que a primeira impressão é sempre de "francês rico foi resgatar coitadinha terceiro-mundista e a trouxe para o desenvolvimento europeu". E é interessante como a grande maioria dos casais franco-brasileiro é composta de brasileira + francês, e não o contrario, o que da um poder automatico ao homem. Por isso quase sempre a primeira pergunta que fazem é: "Vocês se conheceram onde, no Brasil?". Se a pessoa responder sim, a desconfiança cresce, pois sempre pensam que o gringo foi passar o carnaval no Rio pra curtir a vida adoidado e acabou trazendo alguém exotico pra fazer companhia. Se o encontro aconteceu na França, a desconfiança diminui, afinal de contas, se a coitadinha terceiro-mundista teve dinheiro pra vir à Europa por conta propria é porque ela não é tão coitadinha assim. No meu caso foi na Australia, o que é ainda melhor e facilita muitissimo a minha vida. Mas imagino o que os casais que se conheceram no Brasil devem sofrer.

Então parece que as pessoas estão sempre querendo classificar qual tipo de relação que você tem com seu francês. Se é o da coitadinha resgatada, se é o da interesseira, se é o de companheira, se é o de conveniência, se é o de amor ingênuo pela internet, se é o de igualdade. Depois que eles chegam a conclusão de que o casal esta junto pelos mesmos motivos que eles proprios estão com seus companheiro(a)s, passam a te tratar como igual, mas até chegar nesse nivel de confiança são muitas perguntas disfarçadas e meios-sorrisos. E eu que achava que os funcionarios da imigração eram os unicos a se preocupar com os relacionamentos franco-brasileiros.

domingo, 4 de julho de 2010

Um pouco de musica

Vocês devem ter reparado que eu coloquei ali do lado direito um video de um clipe e embaixo a letra da musica (a Glorinha e a Aline repararam e comentaram no ultimo post, valeu meninas!). Pretendo colocar uma musica nova a cada semana e aceito sugestões! Percebi que nunca falava sobre as musicas francesas, até porque eu ouço mais musicas brasileiras e inglesas, então essa também é uma forma de eu descobrir novos sons.

De maneira geral, os brasileiros não conhecem muito a musica francesa atual, so os classicos dinossauros como Gainsbourg, Piaf, etc etc etc. Não estou desmerecendo os gênios, mas achar que "ne me quitte pas" é exemplo de musica que os franceses ouvem no dia-a-dia, é forçar um pouco a barra.

Sei também que tem muita gente que vem aqui no blog procurando dicas de francês e eu acho que a melhor forma de aprender uma nova lingua é através da musica. Por isso coloquei a letra embaixo, pra facilitar a compreensão (e eventuais cantorias).

Espero que gostem!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Piloto competente

Quando eu digo que pegar ônibus é muito mais divertido que pegar metrô, o povo duvida. Ha duas semanas estava meio tristinha por causa dessa historia de dissertação. Indo pra biblioteca, entrei no ônibus e tive uma feliz surpresa quando todos os passageiros com um risinho no rosto gritaram em coro "Bonjourrrrrrrr!".

Quem disse que os parisienses são frios e distantes?

Logo depois o motorista pegou o microfone e soltou todo o seu bom-humor:

- Bom dia passageiros recém-chegados! Gostaram da acolhida? Pois daqui a pouco vocês terão a chance de fazer o mesmo pelos seus colegas. Tim-tum, voo 458 com destinação à Las Vegas, o piloto deseja a todos uma otima viagem. Atenção a todos os tripulantes, novos passageiros chegando. Quero ouvir um grande bonjour: um, dois, três e...

- Bonjourrrrrrrrrr!

E assim todo mundo dentro daquele "avião" começou seu dia de uma forma mais doce e com um sorriso no rosto.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...