sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Et moi et moi et moi

Uma das minhas musicas francesas velhas preferidas é essa aqui, do Jacques Dutronc. Alias, acho que todas as musicas velhas que eu gosto são dele, muito divertido esse cara. A letra diz assim:

700 milhões de chineses
E eu e eu e eu
Com a minha vida, meu mundinho
Minha dor de cabeça, minha doença de figado
Eu penso nisso e depois esqueço
E a vida, é a vida

e etc

Não sei se vocês repararam no detalhe que denuncia a jurassidade da musica: 700 milhões de chineses? So se for em 1967 mesmo, porque hoje caro Dutronc, eles são 1 bilhão e 340 milhões. Nada contra os chineses, então outros numeros desatualizados da musica:

80 milhões de indonésios = 240 milhões hoje.

300 ou 400 milhões de negros = piada né? Nem naquela época dava pra contar população por "etnia", que dira agora! Alias, o conceito de "raça" esta super ultrapassado.

300 milhões de soviéticos = ai complica. Vamos deixar essas contas pra um outro dia, porque juntar a população de todos os paises que sairam do bloco soviético da um bocado de trabalho.

50 milhões de gente imperfeita = não tenho numeros precisos, mas desconfio que haja um pouquinho a mais que isso hoje em dia.

900 milhões morrendo de fome = cerca de 1 bilhão hoje em dia. Acho que ele exagerou la em 1967.

500 milhões de sul-americanos = ai ele se embaralhou de vez, porque hoje nos somos 371 milhões. Talvez tenha se confundido com a América Latina, que tem 600 milhões.

50 milhões de vietnamitas = 87 milhões hoje.

500 bilhões de pequenos marcianos = depois que a gripe A passou por la na década de 90, eles foram a reduzidos à 300 bilhões.

Et moi et moi et moi.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Violência policial não é exclusividade do Brasil


Pouca gente sabe, mas a policia francesa é uma das mais violentas do ocidente. Conheço uma menina teve o piercing na sombrancelha arrancado à base de porrada da policia durante uma manifestação de estudantes em Toulouse, no sul da França. Vira e mexe tem um escândalo onde alguém filmou policiais fazendo merda. Um dos ultimos, mais tranquilo, foi durante uma passeata de estudantes em Strasbourg, onde não teve nenhum confronto. Dai alguém filmou uns policiais que estavam meio de longe, em cima de uma colina e jogando pedra nos estudantes la em baixo! Assim, do nada. Deviam estar meio entediados, sei la, dai resolveram tacar pedra nos outros, simples assim. Ta aqui o video.

Pra ver como a coisa é séria, em abril desse ano a Anistia Internacional condenou a policia francesa por maus-tratos, racismo, uso excessivo da força, além de protestar contra a impunidade para quem comete esses atos. A organização que luta pelos direitos humanos publicou um relatorio de 50 paginas cujo titulo é "França, policia acima da lei?" (em francês).

Eh nesse contexto de terror que o nosso querido Petit Nicolas diz assim: "Policiais da França, vocês podem contar com meu total apoio". Hã? Ele diz que a segurança nacional é a prioridade absoluta no seu governo e que eficiência se mede com resultados. Dai explica a diminuição 'sem-pre-ce-den-tes' da delinquência e felicita o aumento do uso de câmeras de vigilância. So que o Observatorio Nacional de Delinquência afirma que a violência so aumentou desde o inicio do ano.

Quando era ministro do interior, na época que teve aquele caos nos suburbios da França e ele chamou os imigrantes de escoria, lembram?, ele foi acusado de incitar a violência policial. Parece que a coisa não evoluiu desde la, pelo contrario.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Só para constar

A Priscila perguntou nos comentarios do ultimo post, se tem alguma novidade no caso das burcas na França. Tem sim Priscila, então resolvi contar o final da historia.
O jornal Le Monde publicou o resultado de dois estudos feitos por dois orgãos, o SDIG e o DCRI, que chegaram a conclusão que 367 mulheres usam a burca na França. Muito barulho por nada, né? A gente aqui discutindo sobre esse novo "fenômeno" e depois descobre que tudo era uma farsa, que miseras 367 mulheres se sujeitam à isso.
O estudo mostrou ainda que a grande maioria dessas mulheres usam a burca por vontade propria. A maior parte delas tem menos de 30 anos e 26% delas são francesas convertidas ao Islã. Quase todas moram em grandes aglomerações urbanas.
O motivo da burca? Provocação. Jovens que querem provocar a familia e a sociedade. A pesquisa cita o caso de quinze burcas que se encontraram em um centro comercial de Marseille num dia de 'solde' e nem sequer fizeram compras. Ficaram la, exibindo suas burcas para os passantes. Se desse pra ver seus rostos, aposto que veriamos um sorrisinho de satisfação.
Ainda de acordo com a pesquisa, os muçulmanos na França abominam a burca, comparam os radicais à defensores de seitas e temem que a religião muçulmana fique ainda mais estigmatizada por causa dessa historia toda.
Pra provocar a sociedade algumas pessoas colocam mil piercings, outras fazem o estilo punk, outras raspam a cabeça (eu escolhi essa) e outras, adivinham!, usam burca! Ah se a moda pega no Brasil!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Meu caso de amor e odio com as piscinas

Piscina de Reuilly, onde sempre nado em Paris. Não da agua na boca.
Até meus 16 anos, eu era atleta de natação. Na verdade eu vivia para nadar. Achava que meu futuro estava nas piscinas, que eu ia competir as Olimpiadas, que eu ia bater muitos recordes. Bom, o tempo passou e eu aposentei minha 'promissora' carreira esportiva, e hoje aquele universo me parece muito distante. Agora me contento com umas braçadinhas de vez em quando nas piscinas que vou encontrando pelo caminho.

A grande desvantagem do Brasil em relação às piscinas é que la você não pode nadar por conta propria, sempre tem que ter aulas com um professor. Mas às vezes a gente so quer nadar e nadar sem ninguém enchendo o saco, principalmente alguém que provavelmente sabe menos de natação e de técnicas do que você. E então depois de ouvir alguns absurdos como "Agora vamos nadar costas com pernada de peito", desisti da natação não-comprometida no Rio. Tem os banhos-livres, mas todo mundo que vai nesse horario vai pra brincar e os pobres nadadores são obrigados a desviar de crianças o tempo todo.

Quando fui pra Australia descobri o paraiso na terra. Afinal de contas, a Australia é o pais dos esportes e mais precisamente, da natação. Fiquei super feliz em descobrir que em algum lugar do mundo as pessoas dividiam a mesma paixão que eu e ja tinham um sistema todo adaptado. Me senti em casa, como revendo velhos amigos. As piscinas eram do governo, bem baratinhas, e não tinham professores! Passei a nadar todo dia de manhã antes de ir pras aulas de inglês. 6h da manhã e a piscina lotada! Dava até gosto. Mas dava pra nadar legal porque a piscina era bem grande, de 50m com 10 raias e o principal: era tudo muito bem organizado. As raias eram divididas em devagar, média, rapida e super rapida, de acordo com a sua velocidade. Dai eu metida, fui logo me metendo na super rapida e fiquei surpresa ao ver que era rapida demais pra mim! Uau! As pessoas aqui nadam de verdade! Aposto que ninguém vai nadar "costas com pernada de peito"! Fiquei la feliz na vida, debaixo de um sol gostoso, no meio daquele clima onipresente de olimpiadas. A unica dificuldade que tive foi descobrir que até na piscina a mão é inglesa! Quase dei umas cabeçadas até acostumar.

Ja a França é o meio termo entre Brasil e Australia. Aqui pelo menos tem varias piscinas publicas, mas bem pequenas e longe da eficiência e espirito esportivo australianos. Pra começar, sempre tem gente demais, e os "atletas" parisienses estão longe de ter a velocidade dos australianos. Acho que se eu for de cachorrinho nado mais rapido que eles. Algumas piscinas também tem divisão, mas em "com material" e "sem material". Na raia com material ficam as garotas com prancha que não querem molhar os cabelos e os caras se debatendo com pé-de-pato, pullboy, palmar, so faltando a mascara de mergulho. A raia sem material não é muito melhor, as pessoas nadam muito devagar e param a cada volta que dão. Eu ainda saio em desvantagem, porque os caras fortões saem correndo na minha frente, achando que nadam mais rapido que eu e depois tenho o maior trabalhão de ficar ultrapassando todo mundo. Não que eu ainda nade bem como antigamente, mas é que eles realmente nadam muito mal. Ah se os australianos vissem... Iam morrer de rir.

Por causa disso tudo, desanimo de nadar aqui em Paris. Além do mais o frio me tira qualquer força de encarar uma piscina. Eh tanta roupa pra tirar que nem cabe num armario so. No inverno então, não da vontade nem de sair de casa, que dira fazer esporte. Prefiro me entupir de chocolate. Agora esta o maior calor, mas isso significa que as piscinas estão lotadas, então nem adianta tentar. Nessas horas vai me dando uma saudade da Australia.....
Piscina Centenary, em Brisbane, Australia, onde eu nadava todos os dias. Qual das duas da mais vontade de nadar? Covardia né? "O que estou fazendo em Paris???"

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Suicidios no trabalho

O suicidio faz parte da realidade dos franceses e dos europeus em geral. Um em cada quatrocentos franceses ja tentaram se matar, um numero pra la de impressionante. A média é de 19 suicidos por 100 mil habitantes, o quarto lugar entre os paises desenvolvidos. O Brasil não chega nem a 5/100 000, um dos mais baixos do mundo, e isso porque o RS tem os maiores indices, sem esse estado o numero baixa ainda mais (olha eu fazendo coro aos separatistas! Nem pensar, viu?). Na França eu conheço gente que ja tentou se matar e no Brasil não conheço ninguém, e moro aqui so ha dois anos e meio. Ja ouvi dizer que tem um suicidio por dia nos metrôs de Paris.

O que assusta é ver a relação direta que os suicidios têm com as condições de trabalho. O que dizer da empresa France Telecom, que so na sua filial em Bensançon, houveram 20 casos de suicidios desde fevereiro do ano passado? Algumas dessas pessoas, em suas cartas de despedida, disseram claramente que não aguentavam mais seu emprego. Eh claro que provavelmente todos eles deviam ter problemas pessoais também, mas uma vida de trabalho infeliz provoca efeitos colaterais em qualquer relação sadia.

Pra mim é estranho pensar que alguém se mata por causa do trabalho. Se não esta bom, muda ué. Mas os franceses tem uma relação muito peculiar com seus empregos. Antigamente ninguém pensava em mudar de trabalho. A ordem natural das coisas era conseguir um emprego aos 18 anos e ficar nele até se aposentar. Agora que as coisas estão mudando. Mas imagina pra esses caras que moram em cidades pequenas, sem muitas oportunidades e ter que viver um inferno por dia, sem expectativas de mudanças?
O especialista em saude do trabalho do Conservatorio Nacional das Artes e do Trabalho, Christophe Dejours, disse em entrevista ao Le Monde que o estimulo à competição entre os colegas diminuiu muito a qualidade de vida no emprego. Por causa de avaliações individuais, uma concorrência se instalou nas empresas e o companheirismo e a solidariedade entre os funcionarios foi diminuindo.

O fato é que os sindicalistas estão caindo de pau nessas empresas e fazendo pressão para que algo seja feito. Pequenas mudanças ja foram conseguidas, mas ainda esta longe de ser o ideal. Enquanto isso, bastante cuidado no metrô de Paris.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A cultura da mundialização

Acho engraçado quando alguém me pergunta se eu ja me acostumei com as "diferenças culturais" da França. Ou quando alguém pergunta das dificuldades que é namorar alguém de outra "cultura". Dai eu respondo que praticamente não ha diferenças culturais e as pessoas ficam surpresas (e um pouco decepcionadas). Ora, eu tenho muito mais em comum com os parisienses do que com os sertanejos do interior da Bahia, ou com as comunidades ribeirinhas do Amazonas. Morar nesses lugares seria sim, um choque cultural. Namorar com uma pessoa de la, nossa, seria necessario muito amor pra superar as diferenças.

As metropoles do ocidente se aproximam muito mais umas das outras, apesar das enormes distancias, do que com as cidades menores do proprio pais. Elas se interconectam na velocidade da internet e criam um mundo globalizado, onde um cara de Nova York pensa exatamente como um de Madri. Ao mesmo tempo esse mesmo nova-iorquês teria grandes problemas em ter uma conversa civilizada sobre gays e imigração com alguém do interior do Texas.

Não tive nenhum problema de adaptação. Fora detalhes do dia-a-dia, como descrevi no ultimo post, não existe diferenças culturais que realmente interferem na minha vida.

Agora, um exemplo de reais diferenças culturais é o exelente blog da Aline, que esta morando no Senegal. La, mesmo na capital Dakar as coisas funcionam completamente diferentes e às vezes fico chocada com o que ela conta, como racionamento diario de agua, poligamia, e outras coisitas mas que vocês verão no blog. Destaque para a historia dos seres que moram nos baobas (lembram do Pequeno Principe, que morria de medo do seu planetinha ser invadido por essas arvores gigantes e tomar o espaço todo?). Visitem o blog, vale a pena.

sábado, 8 de agosto de 2009

Visita das mães


Minha mãe esta aqui em casa ha uma semana. Ela veio com uma amiga, que é mãe da minha amiga Tati maionese e somos todas familia. Quando junta nos quatro, não tem pra ninguém! Mas mesmo sem a Tati, eu tenho me divertido bastante com elas duas e ja tive crises incontrolaveis de risos. Infelizmente (ou felizmente?) eu não posso sair durante o dia por causa do meu estagio, mas à noite a gente compensa. Rimos tanto que as pessoas na rua param pra olhar o que esta acontecendo. E isso é estranho pra mim, ja que nos ultimos anos passei a viver como uma parisiense e os parisienses não fazem esse tipo de coisa.

Dai convivendo com as duas percebi que alguns habitos que eu tinha desapareceram por completo e que adquiri outros, bem locais. As vezes até me assusto com minhas reações. Você sabe que ja passou tempo demais morando na França quando a sua mãe vem te visitar e você diz pra ela, espontaneamente as seguintes frases:

- Como assim você vai comer queijo no café da manhã?
- Como assim você esta com frio?
- Como assim não vamos comer nenhum legume hoje?
- Como assim você não vai descansar no domingo?
- Como assim não vamos jantar?
- Como assim você vai comer fois gras na baguete?

E etc etc etc.

Ai meu deus, sera que estou virando uma parisiense e da proxima vez que elas vierem vou brigar quando começarem a rir no meio da rua?

domingo, 2 de agosto de 2009

Quem está no leme?

Durante o ano em que morei no Brasil com o cheri notei uma coisa que normalmente passaria despercebida: as pessoas levam os homens mais a sério no dia-a-dia. O que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, é simples. Ele não falava uma palavra de português, então quando saiamos juntos, era sempre eu quem interagia com as pessoas na rua, pedia informações, pedia a conta pro garçom, pedia a coxinha na lanchonete. E quando alguém nos perguntava alguma coisa, era eu quem respondia. Dai comecei a perceber que os desconhecidos SEMPRE se dirigiam à ele, e não à mim. Seja pra pedir direções, para perguntar o que iamos comer ou somente comentar como estava quente, as palavras eram sempre para ele e eu deveria ser somente um ser sorridente que concordaria com tudo. E essas pessoas ficavam um pouco atordoadas quando eu me intrometia e respondia primeiro. E depois dava a impressão que eu tinha que justificar a mudez dele, de alguma forma mostrar que ele era estrangeiro, para não passar como bobo.

Bobo porque deixa a garota tomar a atitude? De onde saiu esse preconceito e, pior, como ele foi parar mesmo dentro da minha cabecinha liberal também? A gente esta tão acostumado com situações machistas pequenas, que acabamos toma-las como normais. E o mais grave é que se o cheri pudesse responder às perguntas, eu nem iria perceber como era ele o alvo intelectual das pessoas e como eu era uma coadjuvante. Ia passar normalmente, uma coisinha bem corriqueira, e a vida seguiria.

Para minha dissertação de mestrado fui ao Paraguay fazer minha pesquisa de terreno e o cheri foi comigo. Ja tinha ouvido falar que la existia um machismo mais forte que no Brasil (isso é possivel?). Algumas pessoas que entrevistei, não todas, deixaram isso bem claro. Eu explicava que a pesquisa era minha, que eu estava fazendo uma dissertação, eu fazia as perguntas e mesmo assim eles respondiam para o cheri. Olhando para ele, como se a minha presença fosse decorativa. Ta certo que o cheri tem presença de espirito, participa, se interessa, mas poxa, porque as pessoas respondiam so pra ele? Parecia que eu era sua secretaria, tomando notas da reunião.

(engraçado foi uma vez em Assunção que fomos tomar cerveja com um amigo paraguaio, e eu ja revoltada com esse machismo, vi que a garçonete trouxe uma garrafa de cerveja e dois copos, que ela colocou na frente de cada um dos meninos e me deixou sem nenhum. Ja tava explodindo de indignação, mas me explicaram que la eles dividem os copos, que ela tinho sido até generosa deixando dois, pois normalmente todo mundo divide um so. De qualquer forma fiz questão de pedir um terceiro copo pra mim).

Dai notei que quando cheguei na França, quando as pessoas pediam informações na rua, elas olhavam para nos dois. E me acostumei a deixa-lo sempre responder por causa do meu pobre francês, o que me deixa frustrada. Acaba sempre dando a impressão que ele é o cara de atitude e eu uma concordante sorridente. Dai também passou a me dar vontade de, de alguma forma, mostrar que eu era estrangeira, não uma passiva.
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